Três vezes por semana a gestante Júlia Nogueira pratica musculação e treinamento funcional. Para ela, a barriga de seis meses não representa qualquer empecilho na hora de levantar os pesos ou encarar os aparelhos durante o treino que, claro, é aplicado considerando suas limitações e priorizando sua segurança e a do bebê. E ela não está sozinha. A prática de atividades físicas durante a gravidez tem sido cada vez mais incentivada e, pode, segundo estudos que ainda estão em andamento, estar associada à prevenção de doenças como a diabetes gestacional e a hipertensão, a evitar o ganho de peso excessivo e também a prematuridade.

Com a proposta de analisar as influências da atividade física durante a gravidez, o estudo Pamela, do Centro de Epidemiologia UFPel, já em fase final, separou gestantes em dois grupos: um que recebeu o programa de treinamento envolvendo musculação, exercícios aeróbicos e alongamentos e um outro sem qualquer tipo de práticas. O coordenador e docente da graduação em Educação Física, Marlos Domingues, acredita que os benefícios deverão ser comprovados e aproveita para questionar a relação entre gestação e sedentarismo. “Exceto os casos de gravidez de risco ou que exista alguma restrição médica, não há por que a gestante não se exercitar. Inclusive é através da atividade física que ela vai poder aliviar transtornos do período, como dores nas costas e inchaço.”

Júlia concorda com o professor. Esperando hoje a segunda filha, ela aponta as diferenças da gestação anterior, período o qual ainda não frequentava a academia. “Engordei bem menos e me sinto mais disposta para o dia a dia.” E destaca ainda que a maior dificuldade está em fazer os outros compreenderem que ela e o bebê não estão expostos a riscos. “O médico liberou e treino com uma pessoa com experiência, dentro dos meus limites. Jamais faria algo que pudesse nos prejudicar.” Este é, para Marlos, o ponto central. Na sua avaliação, a associação do repouso com o período gestacional pertence ao senso comum, sem que encontre qualquer comprovação científica. Principalmente porque o sedentarismo está relacionado a uma série de doenças como a hipertensão, por exemplo. “Existem as situações de risco, não é todo mundo que pode tudo, mas não é só porque uma mulher está grávida que ela não pode fazer nada”, alerta. As limitações, continua o educador físico, estão mais no corpo da gestante do que ligadas ao período gestacional, como os enjoos e o tamanho da barriga, que restringe certas práticas.

Com quem entende
A academia já fazia parte da vida da dançarina Francine Darley quando ela engravidou. A decisão foi por continuar com a rotina de exercícios em nome do condicionamento físico, mas alguns cuidados foram necessários. Treinar com quem entende da sua condição e suas limitações foi um deles. Sua personal, Anelita Del Vecchio, não só trabalha frequentemente com gestantes como também manteve a prática da musculação até o último dia da sua própria gravidez. “O treino não tem diferença, mas é preciso estar atento já que nesse período o corpo muda diariamente, então é necessário analisar todos os fatores.”

Para Francine, mãe de primeira viagem, os exercícios contribuem para uma rotina mais leve e aliviam sintomas comuns como dores e desconfortos. Por ela, afirma, faria de tudo. Mas, como a atividade oferecia risco de queda, foi preciso parar com as competições de dança as quais concorria. Anelita reforça: unicamente pela possibilidade de um baque que poderia afetar a gestação, mas não pela prática em si. “Tendo a liberação médica de que não há fatores de risco na gestação, os exercícios são bem-vindos e mesmo necessários para o controle de peso e de doenças”, complementa.

Em nome da segurança

- Para a prática de exercícios com total segurança é necessário que o médico ateste a saúde e libere a gestante para as atividades 

- Profissionais de Educação Física e com experiência e conhecimento são essenciais para o treino seguro

- A qualquer sinal de desconforto, médico e personal devem ser informados

- Com o avanço da gravidez, o treino deve ir sendo adaptado conforme os limites do corpo da gestante